quinta-feira, 26 de julho de 2007

Excesso de conteúdo é novo dilema da internet


Um nova discussão começa a ganhar corpo nesses tempos de web 2.0, o termo criado para expressar o que seria a segunda fase da internet, marcada pelo conteúdo produzido pelos próprios usuários. O dilema é o seguinte: uma das razões do sucesso da internet, desde sua origem, é a capacidade de oferecer ao usuário a oportunidade de acessar o que quiser, quando bem entender. Agora, porém, à medida que mais e mais dados entram diariamente na rede, esse fundamento não estaria afastando o internauta, frustrado pela incapacidade de encontrar o que lhe parece relevante? A resposta, pensam alguns, seria estabelecer um responsável por selecionar e empacotar o conteúdo disponível - uma tarefa parecida com a de um editor de jornal ou diretor de programação de uma emissora de TV. Mas, questionam outros, isso não tiraria da web uma de suas características essenciais?


É na busca de respostas para essas questões que grupos de mídia e entretenimento estão formatando novos modelos de negócio. Há um mês em atividade, a WeShow - que gerencia um site focado em vídeo online - encomendou uma pesquisa à consultoria Kelton Research. O levantamento mostra que 61% dos americanos consultados se consideram, sim, sufocados com a quantidade de vídeos existente na web. Além disso, quase metade da mostra (46%) disse não assistir a vídeos com mais freqüência porque não quer ter a trabalheira de procurar o clipe desejado na extensa lista de links que aparece nos resultados das buscas."A maioria dos americanos não consegue descobrir o que quer porque há mais material do que se pode consultar", diz Marcos Wettreich, fundador da WeShow.


Segundo o levantamento, 96% dos pesquisados demonstraram frustração porque nem sempre o primeiro link indicado é o desejado. E 38% deles afirmaram que isso acontece o tempo todo ou quase sempre. Pelo seu próprio modelo de atuação, a WeShow é partidária da idéia de que os usuários, ou pelo menos uma categoria deles, vai se beneficiar de uma seleção prévia do conteúdo. Concebida por Wettreich - que na década passada criou o prêmio iBest e a companhia de marketing Mlab -, a WeShow concentra-se nos vídeos on-line, mas não concorre com sites de compartilhamento como YouTube, Joost e Dailymotion. Em vez disso, a equipe da WeShow vasculha a internet e escolhe semanalmente 10 clipes em mais de 20 categorias, divididas em subgrupos.


Como atua em três países - Brasil, Estados Unidos e Reino Unido -, a oferta de assuntos varia para se adaptar ao gosto do freguês. Na Inglaterra, há um canal específico para vídeos da família real, além de esportes como críquete e badmington. A novidade é que, até setembro, a companhia pretende iniciar os serviços em mais três países: Alemanha, França e Espanha. Sob esse formato, ninguém garante que o ranking feito pela equipe do site seria o mesmo dos usuários, até considerando a heterogeneidade do público da internet. Mas Wettreich diz que o trabalho de seleção não elimina necessariamente a liberdade de escolha individual. "Há dois grupos (de usuários): o dos que gostam (de fazer suas próprias pesquisas) e o dos que não gostam". O objetivo é tornar o site uma ferramenta principalmente para o segundo tipo de usuário.


Uma parcela importante do público, de acordo com a pesquisa da Kelton, é guiada pelas sugestões de terceiros. Segundo o levantamento, 45% das pessoas ouvidas disseram que a maioria dos vídeos on-line que elas assistem são enviados por outras pessoas. E, para cerca de três quartos da mostra (74%), os melhores vídeos são justamente os que já passaram pelo crivo de um colega."Por causa da avalanche de conteúdo, você geralmente vai atrás (de um vídeo) por causa de uma dica recebida, uma pista", diz André Mantovani, diretor geral dos canais do grupo Abril. Na segunda-feira, a empresa coloca no ar o canal FIZ, que inicialmente será transmitido pela operadora TVA. A proposta é integrar internet e televisão: por meio de um site (www.fiztv.com.br), aberto no início do mês, os usuários podem enviar suas produções e assistir aos vídeos de outros usuários. Os mais votados serão exibidos na TV e seus realizadores, remunerados.


Para escapar ao dilema excesso de conteúdo versus seleção prévia, o FIZ tem um modelo híbrido. "O que vai para a TV é decidido por voto do próprio público. Já no site, você assiste ao que quiser", explica Mantovani. Vídeos de todos os tipos têm chegado, mas a maioria foge ao padrão de registros pessoais que dão o tom de sites como YouTube. Prevalecem vídeos mais bem estruturados e com roteiro definido, afirma o executivo. O papel da equipe do canal será empacotar as produções por categorias. As cinco primeiras são animação, documentário, clipe, curta-metragem e humor. "O que fazemos é filtrar (o conteúdo). Mas não há arrogância", diz Mantovani. "É a própria comunidade do site quem escolhe o que será exibido na TV". (Fonte: Valor Econômico)

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