terça-feira, 14 de outubro de 2008

O mago navega feliz nas mídias digitais




Paris, 14 de Outubro de 2008 - Chamado de "mago" - pelo tipo de literatura que faz -, o autor brasileiro Paulo Coelho está ganhando reputação de um dos pioneiros digitais, graças à adesão entusiasmada às mídias on-line. Nesta semana, ele comenta, na abertura da Feira do Livro de Frankfurt, o poder promocional da pirataria e os méritos artísticos dos blogs na web. Além de um blog, Coelho tem perfis em várias redes de relacionamento social. Ele utiliza a ferramenta "Twitter" e regularmente envia vídeos ao YouTube, sob a rubrica Privacidade Zero. Além disso, há alguns anos distribui versões digitais de seus livros de graça na web. Veja a entrevista concedida ao correspondente da Reuters, Matt Cowan, em Paris. Gazeta Mercantil - Por que razão o senhor mantém todas essas atividades na rede? Pela diversão. Não sou uma pessoa que se sociabiliza bem. Não vou a coquetéis, nem a festas. Descobri esse mundo fantástico atrás da web que me ajuda como profissional. Gazeta Mercantil - Ajuda de que maneira? Não é apenas uma maneira de permanecer engajado, mas o trabalho de qualquer escritor são os conflitos humanos. As pessoas relutam em falar de suas vidas, mas são mais abertas na internet. É claro que elas adotam uma persona. Nunca se pode saber se essa persona é verdadeira ou não, mas tem uma boa história a contar. Gazeta Mercantil - Por que o senhor acha que vale a pena ter um blog? Se você perguntasse aos monges da Idade Média o que pensavam de Gutemberg e da impressão, eles diriam "de que valem alguns livros impressos? Estamos aqui, desenhando cada letra com bela caligrafia. Isto é arte. Isto é sagrado, e o processo de impressão inventado por Gutemberg não quer dizer nada". Acho que estamos na mesma situação hoje. As pessoas podem mostrar e expressar o que sentem, em imagens, textos e filmes. Gazeta Mercantil - O senhor não teve o objetivo de se tornar um pioneiro digital? No início, era uma maneira de conseguir informações para escrever livros. Depois você sente que deve algo - que está recebendo, mas não dando. Então começa a dar e percebe como é importante dar. Se você for a meu blog, encontrará muitas coisas gratuitas. E isso me faz vender menos ou mais livros? Ninguém sabe. Vou à Feira de Livros de Frankfurt discutir isso. Não sei se vendo livros, mas sei que estou compartilhando minha alma. Gazeta Mercantil - O senhor está entusiasmado com a multimídia como alternativa aos livros? Como escritor, fico entusiasmado em viver tudo. Acabo de criar um filme com meus leitores. Durante um ano peguei "A Bruxa de Portobello" e disse aos leitores: "Vocês têm que escolher um personagem e fazer um filme com ele". Mais de 6 mil pessoas participaram do concurso. Selecionei 15 e temos um filme fantástico. Gazeta Mercantil - Por que o senhor se interessa tanto por redes de relacionamentos sociais? Não é que eu esteja cansado de escrever livros. Mas acho instigante escrever para novas plataformas, porque isso desafia você a utilizar linguagens novas. É preciso ser direto. Eu sou muito direto em meus livros, mas, mesmo assim, a internet tem uma estrutura de escrita diferente. É como se eu estivesse num reino novo agora. Sem deixar de lado meus livros, estou expandindo meu universo. Gazeta Mercantil - Qual a idéia por trás do Privacidade Zero. A idéia é que a privacidade zero é uma realidade. Não temos mais vida privada. Então comecei a colocar (no YouTube) vídeos de coisas que me acontecem. A primeira reação do marketing das editoras foi dizer "está errado, você precisa conservar uma aura de mistério. Deveria estar numa torre de marfim, sem ninguém saber o que está fazendo". Eu disse: "tudo bem, mas nesse caso eu não me divertiria". Gazeta Mercantil - Você não se preocupa com sua segurança ou com fãs desequilibrados? John Lennon foi assassinado antes da chegada da internet. Se você pensar nessas coisas, não fará nada. Então é preciso assumir riscos. Gazeta Mercantil - Qual é o significado da decisão da HarperCollins de produzir versões eletrônicas gratuitas de alguns de seus livros? Tive uma grande executiva-chefe na HarperCollins, Jane Friedman. Recebi uma ligação dela e disse que não podia voltar atrás no que eu tinha dito (quando mencionou que colocaria seus livros gratuitamente na rede). Eu disse "vamos resolver o problema, não vamos voltar ao passado". A HarperCollins criou um site no qual você pode ler o livro, mas não pode baixá-lo. Então eu digo "uau". (Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 2)(Reuters)